
As dash cams (câmaras de vídeo a bordo) sempre foram vistas como testemunhas silenciosas no trânsito, registando tudo o que se passa à frente do carro para servir de prova em caso de acidente. Mas a nova geração de dash cams está a transformar completamente este conceito.
Combinando câmaras de alta-definição com inteligência artificial, estes dispositivos passaram de simples gravadores para verdadeiros copilotos digitais. Hoje, são capazes de analisar em tempo real o ambiente rodoviário, alertar o condutor para riscos iminentes e até registar automaticamente incidentes críticos para posterior análise.
A popularização começou sobretudo nas frotas empresariais, onde a redução de acidentes representa uma enorme poupança em custos de manutenção e seguros. Para as empresas de transporte, logística ou serviços de mobilidade, cada colisão evitada significa menos tempo de paragem e maior eficiência operacional. Agora, a tecnologia está a chegar aos condutores particulares, prometendo tornar a condução diária mais segura e informada.
Os números são reveladores: estudos recentes mostram uma redução de até 37% nas colisões graves após a instalação de dash cams com inteligência artificial (IA) em frotas comerciais, e avisos de colisão que chegam, em média, 2.5 segundos mais cedo do que o reflexo humano seria capaz de reagir. É tempo suficiente para travar ou desviar e evitar um acidente potencialmente grave. Não é de admirar que um em cada três condutores esteja disposto a aceitar monitorização interna se isso resultar numa redução do prémio de seguro.
O OLHAR DAS DASH CAMS INTELIGENTES
A principal diferença entre dash cams tradicionais e as equipadas com inteligência artificial é que estas últimas não se limitam a gravar imagens: interpretam-nas e atuam em tempo real. Utilizando algoritmos de visão computacional, conseguem detetar desvios de faixa sem sinalização, alertar para veículos em rota de colisão, medir distâncias e antecipar colisões traseiras, além de reconhecer peões ou ciclistas que possam surgir inesperadamente.
No interior do veículo, monitorizam sinais de fadiga e distração, como pestanejar lento, cabecear ou uso do telemóvel, emitindo alertas sonoros ou visuais para recentrar a atenção. Em contextos empresariais, algumas câmaras podem ainda verificar a identidade do condutor antes da viagem, garantindo que apenas motoristas autorizados utilizam o veículo.
Para além das imagens, estas dash cams integram sensores como acelerómetros e GPS, detetando travagens bruscas, curvas agressivas ou acelerações repentinas, permitindo identificar padrões de condução de risco. Em caso de colisão ou quase-acidente, guardam automaticamente os segundos críticos antes e depois do evento e, muitas vezes, enviam-nos para a nuvem para análise pelo gestor de frota ou pelo próprio condutor.
MAIS DO QUE PROVA: PREVENÇÃO EM TEMPO REAL
A grande revolução das dash cams inteligentes é a sua capacidade de atuar de forma preventiva, deixando de ser apenas testemunhas de acidentes. Estes sistemas utilizam algoritmos para calcular distâncias e velocidades, alertando o condutor com sinais sonoros ou visuais quando existe risco de colisão frontal; alguns modelos mais avançados podem mesmo acionar autonomamente os travões. Em desvios de faixa, avisam através de vibração no volante ou sons, sendo particularmente úteis em viagens longas, onde a sonolência ou distração podem causar deslocamentos involuntários do veículo.
A monitorização do comportamento do condutor é outro ponto central: olhos fechados por demasiado tempo, cabeça inclinada ou olhares frequentes para o telemóvel são detetados, e o sistema emite alertas ou recomenda pausas, muitas vezes representadas com ícones, como uma chávena de café. Em frotas, estas informações podem ser enviadas aos gestores para intervenções preventivas, como formação ou ajustes nos turnos. Além disso, qualquer manobra perigosa — travagens bruscas ou curvas apertadas — é registada automaticamente, com data e localização, permitindo analisar o comportamento do condutor e promover ajustes rápidos no estilo de condução.
PRIVACIDADE, CONFIANÇA E O FUTURO DA MOBILIDADE
Naturalmente, esta recolha constante de dados levanta questões de privacidade. Quem é o dono das gravações? Durante quanto tempo devem ser armazenadas? Poderão seguradoras ou empregadores utilizar estas informações para penalizar condutores? A indústria tem procurado responder a estas preocupações, apostando em tecnologias de processamento offline — ou seja, analisando os vídeos localmente, no próprio dispositivo, e enviando para a nuvem apenas o que o utilizador autorizar.
O futuro promete uma integração ainda maior destas tecnologias. À medida que os veículos se tornam mais conectados e as cidades mais inteligentes, é provável que as dash cams passem a comunicar com sistemas de gestão de tráfego, ajudando a mapear pontos perigosos nas estradas e contribuindo para decisões de planeamento urbano. Existem seguradoras que já estudam programas de incentivo para condutores que adotem estas tecnologias e apresentem um histórico de condução segura.
VALE A PENA COMPRAR UMA?
Com preços a variar entre os 200€ e os 400€, a decisão de investir numa dash cam com IA dependerá da necessidade de ter alertas e coaching em tempo real, da aceitação ou não de que os dados de condução possam ser armazenados na nuvem e da perspetiva de eventuais poupanças no seguro automóvel. Estas câmaras inteligentes estão a transformar o carro num parceiro ativo de segurança. Para alguns, são a chave para estradas mais seguras; para outros, um passo a mais na era da vigilância digital. Mas à medida que a tecnologia evolui e se democratiza, é difícil ignorar o seu potencial para salvar vidas e tornar a condução mais consciente e responsável.
- Fonte: Revista e-MOBILIDADE



